Creditos: Samuel Rangel Siquice



1.Introdução

A implementação eficaz da política de ordenamento territorial é fundamental para orientar o desenvolvimento urbano sustentável em Moçambique. Neste contexto, enfrentamos uma série de desafios complexos que demandam soluções inovadoras e abordagens integradas. Como destacado por Davis et al. (2018), "o ordenamento territorial é essencial para promover o crescimento econômico equitativo, proteger o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida nas áreas urbanas". No entanto, a realidade moçambicana é marcada por uma rápida urbanização, pressões demográficas crescentes e vulnerabilidades a desastres naturais, tornando crucial uma abordagem estratégica e holística na implementação das políticas territoriais (MOSURB, 2020). Este trabalho busca analisar os desafios enfrentados na implementação da política de ordenamento territorial em Moçambique e propor soluções que promovam um desenvolvimento urbano inclusivo, resiliente e sustentável.

2.Objetivo geral

Ø  Examinar a implementação da Política de Ordenamento Territorial em Moçambique

2.1.Objetivos específicos

Ø  Apresentar os principais conceitos do ordenamento territorial

Ø  Examinar o estágio atual da política de ordenamento territorial em Moçambique;

Ø  Examinar os desafios enfrentados pela política de ordenamento territorial em Moçambique e apresentar propostas de melhoria para a sua melhoria

3.Metodologia

O presente trabalho foi embasado em uma pesquisa bibliográfica, conforme definido por Lakatos e Marconi (2008), que consiste na busca, seleção e documentação de obras já publicadas sobre um tema específico. Essas obras podem abranger uma variedade de fontes, como livros, monografias, teses, dissertações, artigos de revistas, jornais e outros materiais disponíveis. O propósito da pesquisa bibliográfica é fornecer ao pesquisador acesso ao conhecimento previamente publicado sobre o tema em estudo, estabelecendo assim uma base sólida para sua própria investigação. Esse método permite que o pesquisador situe seu estudo dentro do contexto do conhecimento já existente, ao mesmo tempo em que identifica lacunas ou áreas de interesse que demandam uma análise mais detalhada (Lakatos & Marconi, 2008).

4. Implementação da Política de Ordenamento Territorial em Moçambique

4.1.Ordenamento territorial

Ordenar é um processo social global que se inicia com o estabelecimento de normas jurídicas e culmina com sua aplicação e execução. Essas normas são essenciais para a definição de objetivos, a escolha de instrumentos apropriados e a condução de intervenções públicas ou privadas. Segundo Condesso (2001), citando Romá e Jaume, o direito é fundamental para determinar metas, esclarecer sua importância e listar os instrumentos a serem utilizados. Ordenar, de acordo com esses autores, implica a habilidade de organizar algo de maneira correta, o que pressupõe a capacidade de fazer escolhas distintas. Dentro dessa perspectiva, o conceito de ordenamento territorial pode ser entendido, de forma restrita, como uma seleção entre alternativas que atendem a requisitos específicos considerados indispensáveis (Condesso, 2001).

O conceito de Ordenamento do Território, conforme delineado por Santa Inez (2004), tem suas raízes históricas na França pós-revolução, introduzido sob o termo "amenagement du territoire". Essa abordagem surgiu da necessidade de organizar o território para fins administrativos, conciliando as divisões naturais, como as bacias hidrográficas, com as características administrativas e econômicas, como a agricultura e a mineração. Este processo foi concebido para facilitar o levantamento e a organização do território, promovendo assim uma gestão mais eficaz e eficiente.

Santos (2002) amplia essa definição, descrevendo o ordenamento territorial como um processo complexo de planejamento e gestão do espaço geográfico. Envolve a definição de políticas, planos e regulamentos para orientar o uso do solo e a localização de atividades econômicas. Essas medidas visam promover o desenvolvimento sustentável e equitativo das áreas urbanas e rurais, garantindo uma distribuição justa de recursos e serviços.

Essa abordagem holística considera uma variedade de fatores, incluindo as características físicas e ambientais do território, as demandas sociais e econômicas das comunidades locais, os padrões de ocupação do solo e as infraestruturas existentes. O ordenamento territorial busca conciliar diferentes interesses e necessidades, promovendo um desenvolvimento integrado e sustentável em todas as escalas territoriais.

4.2.O Estágio Atual da Política de Ordenamento Territorial em Moçambique

O estágio atual da política de ordenamento territorial em Moçambique reflete uma combinação de progressos significativos e desafios persistentes. Legalmente, o país possui uma estrutura jurídica robusta para o ordenamento territorial, conforme estabelecido na Constituição da República de Moçambique promulgada em 2004. Essa Constituição estipula os princípios gerais do ordenamento do território, enfatizando a importância da gestão integrada e sustentável dos recursos naturais, bem como o desenvolvimento equilibrado do território. A terra, de acordo com o Artigo 109, n.º 1 da Constituição, é propriedade do Estado moçambicano, o que implica que todas as terras dentro do território nacional são de sua propriedade. Além disso, o Artigo 109, n.º 2 proíbe a venda, alienação, hipoteca ou penhora da terra, enquanto o Artigo 109, n.º 3 reconhece o direito fundamental de uso e aproveitamento da terra por todos os cidadãos moçambicanos.

Por outro lado, a Lei do Ordenamento do Território tem como objetivo estabelecer um conjunto de regras e regulamentos legais alinhados com os princípios e direitos constitucionais. Isso implica em diretrizes que visam garantir a gestão adequada e sustentável do território, considerando os interesses econômicos, sociais e culturais das diversas partes envolvidas, incluindo as comunidades locais.

Institucionalmente, o Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER) desempenha um papel central na formulação e implementação da política de ordenamento territorial em colaboração com outros ministérios e entidades governamentais. O MITADER coordena a elaboração de planos e programas territoriais em todo o país.

Apesar dos avanços legais e institucionais, a implementação eficaz da política de ordenamento territorial em Moçambique enfrenta desafios significativos. Entre esses desafios estão a necessidade de garantir uma coordenação eficaz entre os diversos atores envolvidos, a escassez de recursos financeiros e técnicos, bem como a falta de capacidade institucional para monitorar e avaliar o cumprimento das políticas e regulamentos estabelecidos.

 

4.3.Desafios da Política de Ordenamento Territorial em Moçambique

A política de ordenamento territorial em Moçambique enfrenta uma série de desafios complexos que impactam sua eficácia e alcance. A falta de coordenação institucional é um dos principais obstáculos, resultante da descentralização administrativa que fragmentou os órgãos responsáveis pelo planejamento urbano e gestão do território (Dantas, 2018). A proliferação de assentamentos informais é outro desafio significativo, decorrente da falta de acesso à terra formal e da incapacidade estatal de fornecer habitação adequada, gerando conflitos de uso do solo e carência de infraestrutura básica (Silva, 2019).

A rápida urbanização tem promovido uma expansão desordenada das cidades, sem um planejamento adequado, comprometendo o ambiente e a qualidade de vida (Mahumane, 2020). Isso tem resultado na ocupação indiscriminada do solo, com áreas verdes sendo convertidas em espaços urbanos sem considerar os impactos ambientais. A consequente degradação ambiental, como desflorestação e poluição, coloca em risco ecossistemas frágeis e aumenta a vulnerabilidade das comunidades às mudanças climáticas (Mavungo, 2017).

Por fim, a escassez de recursos financeiros e técnicos é um desafio crucial para a implementação eficaz da política de ordenamento territorial. A limitada capacidade institucional e a falta de investimento em infraestrutura e capacitação técnica têm sido obstáculos significativos para o desenvolvimento de planos e programas sustentáveis (Barros, 2020). Para superar esses desafios, é fundamental adotar abordagens integradas e estratégias que promovam a coordenação entre os órgãos governamentais, a regularização dos assentamentos informais, o planejamento urbano sustentável e a alocação adequada de recursos financeiros e técnicos. Somente com ações coordenadas e políticas abrangentes será possível avançar em direção a um ordenamento territorial eficaz e sustentável em Moçambique.

 

 

 

4.4.Propostas de Melhoria para Política de Ordenamento Territorial

Propostas

Descrição

1

Regularização de Terrenos

Implementar iniciativas de regularização fundiária para legalizar áreas ocupadas informalmente, assegurando o acesso à terra e moradia adequada para todos os residentes

2

Reforço Institucional

Propor a criação de uma entidade centralizada para supervisionar o ordenamento territorial, encarregada de coordenar e fiscalizar a aplicação da política em toda a nação.

 

3

Estímulo ao Transporte Sustentável

Investir em infraestrutura de transporte público e incentivar o uso de meios de locomoção ecologicamente corretos, como caminhadas e ciclovias, visando reduzir a dependência de veículos individuais e aliviar congestionamentos

4

Planejamento Urbano

Desenvolver e aplicar diretrizes municipais para orientar o crescimento urbano de maneira sustentável, incentivando a concentração e diversificação das zonas urbanas.

 

5

Proteção Ambiental

Implementar medidas de zoneamento ambiental para preservar locais de importância ecológica e cultural, garantindo a conservação dos recursos naturais e o equilíbrio do ecossistema

6

Incentivos ao Desenvolvimento Urbano Sustentável

Introduzir políticas de incentivo financeiro e fiscal para estimular práticas de construção sustentável, como a adoção de construções ecológicas e fontes de energia renovável

7

Participação da Comunidade

Estimular o envolvimento ativo da comunidade nos processos de planejamento e decisão, assegurando que suas necessidades e preocupações sejam contempladas.

8

Educação e Capacitação

Investir na capacitação profissional e na educação da população sobre temas relacionados ao ordenamento territorial e desenvolvimento urbano sustentável.

9

Monitoramento e Avaliação

Estabelecer sistemas eficazes de acompanhamento e avaliação para monitorar a aplicação da política de ordenamento territorial e ajustar as estratégias conforme necessário.

10

Parcerias entre Setores

Fomentar colaborações entre o governo, setor privado e sociedade civil para mobilizar recursos e conhecimentos necessários para a efetiva implementação da política de ordenamento territorial


5.Conclusão Parte superior do formulário

Em conclusão, a implementação eficaz da política de ordenamento territorial em Moçambique é crucial para promover um desenvolvimento urbano sustentável e equitativo. Neste trabalho, examinamos os desafios enfrentados na implementação dessa política, destacando a falta de coordenação institucional, a proliferação de assentamentos informais, a expansão desordenada das cidades, as pressões ambientais e a escassez de recursos financeiros e técnicos. Para superar esses desafios, foram propostas soluções abrangentes, como a regularização fundiária, o reforço institucional, o estímulo ao transporte sustentável, o planejamento urbano, a proteção ambiental, os incentivos ao desenvolvimento urbano sustentável, a promoção da participação comunitária, a educação e capacitação, o monitoramento e avaliação e a formação de parcerias entre setores. Essas propostas visam promover uma abordagem integrada e holística na gestão do território, levando em consideração as necessidades e preocupações das comunidades locais, a proteção do meio ambiente e a promoção de um desenvolvimento equitativo e resiliente.

A implementação bem-sucedida dessas propostas requer um compromisso contínuo do governo, do setor privado, da sociedade civil e das comunidades locais para trabalharem juntos na busca de um futuro urbano mais sustentável e inclusivo para Moçambique.